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O DESPERTAR DE UMA NOVA
CONSCIÊNCIA
Eckhart Tolle
O tempo, ou seja, o passado
e o futuro, é aquilo de que o falso eu fabricado pela mente, o ego
vive. E o tempo está na nossa mente. Ele não é algo que tenha uma
existência objetiva "ali fora". É uma estrutura mental necessária
para a percepção sensorial, indispensável pelos propósitos práticos,
mas também é sensorial, indispensável pelos propósitos práticos, mas
também é o maior obstáculo ao autoconhecimento. O tempo é a dimensão
horizontal da vida, a camada superficial da realidade. E há ainda a
dimensão vertical da profundidade, à qual só temos acesso através do
portal do momento presente. Assim, em vez de nos concedermos tempo,
devemos removê-lo. Retirar o tempo da nossa consciência é eliminar o
ego. É a única prática espiritual verdadeira.
Quando falo da eliminação do tempo, não estou, é claro, me referindo
ao tempo do relógio, que é usado com propósitos práticos, como
marcar um encontro ou planejar uma viagem. Seria quase impossível
atuar nesse mundo sem esse tempo convencional. O que estou propondo
é a eliminação do tempo psicológico, que é a preocupação
interminável da mente egóica com o passado e com o futuro e sua
resistência a entrar no estado de unicidade com a vida e viver
alinhada com a inevitável condição do momento presente de ser o que
é.
Sempre que um NÃO habitual à vida se transforma num SIM, toda vez
que permitimos que esse momento SEJA COMO É, dissolvemos tanto o
tempo quanto o ego. Para que o ego sobreviva, ele dever tornar o
tempo - o passado e o futuro - mais importante que o Agora, a não
ser por um breve instante logo após obter o que deseja. Contudo,
nada consegue satisfazê-lo por muito tempo. Assim que ele se
converte na nossa vida, existem duas maneiras de sermos felizes. Não
alcançando o que desejamos é uma. Alcançando o que desejamos é
outra.
O Agora assume a forma de qualquer coisa ou acontecimento. Enquanto
resistimos a isso internamente, a forma, isto é, o mundo é uma
barreira impenetrável que nos separa de quem somos além da forma,
que nos afasta da Vida única, sem forma que nós somos. Quando
dizemos um SIM interior para a forma que o Agora adquiri, ela
própria se torna uma passagem para o que não tem forma. A separação
entre o mundo e Deus se dissolve.
Quando reagimos à forma que a Vida assume no momento presente,
tratando o Agora como um meio, um obstáculo ou um inimigo,
fortalecendo nossa própria identidade formal o ego. Disso resulta a
atitude reativa do ego. Ele se vicia em reagir. Quanto maior nossa
disposição para manifestar uma reação, mais vinculados nos tornamos
à forma. Quanto maior a identificação com ela, mais forte é o ego.
Nosso Ser então deixa de brilhar através da forma - ou só faz isso
vagamente.
Por meio da não-resistência à forma, aquilo em nós que se encontra
além da forma emerge como uma presença de total abrangência, um
poder silencioso muito maior do que a identidade de curta duração
que temos a forma - a pessoa. Ele é mais profundamente quem nós
somos do que qualquer outra coisa no mundo da forma.
Quanto mais limitada, quanto mais estreitamente egóica é a visão que
temos de nós mesmo, mais nos concentramos nas limitações egóicas -
na inconsciência - dos outros e reagimos a elas. Os "erros" das
pessoas ou o que percebemos como suas falhas se tornam para nós a
identidade delas. Isso significa que vemos apenas o ego dos outros
e, assim, fortalecemos o ego em nós. Em vez de olharmos "através" do
ego deles, olhamos "para"" o ego. E quem está fazendo isso. O ego em
nós.
As pessoas muito inconscientes sentem o próprio ego por meio do seu
reflexo nos outros. Quando compreendemos que aquilo a que regimos
nos outros também está em nós (e algumas vezes apenas em nós),
Começamos a nos tornar conscientes do nosso próprio ego. Nesse
estágio, podemos também compreender que estamos fazendo às pessoas o
que pensávamos que elas estavam fazendo a nós. Paramos de nos ver
como vítima.
Nós não somos o ego. Portanto, quando nos tornamos conscientes do
ego em nós, isso não significa que sabemos quem somos - isso quer
dizer que sabemos quem NÃO SOMOS. Mas é por meio do conhecimento de
quem não somos que o maior obstáculo ao verdadeiro conhecimento de
nós é removido.
Alguém que na infância tenha sido negligenciado ou abandonado por um
dos pais ou por ambos desenvolverá, provavelmente, um corpo de dor
que será estimulado por qualquer situação que lembre, até mesmo de
forma remota, o sofrimento primordial do abandono. Tanto um amigo
que se atrase cinco minutos para pegar a pessoa no aeroporto quanto
um cônjuge que chega tarde em casa podem deflagrar um ataque
violento do seu corpo de dor. Se seu parceiro ou cônjuge o deixa ou
morre, a dor emocional que esse indivíduo sente vai muito além da
que é natural em circunstâncias como essas. Pode ser uma angústia
intensa, uma depressão duradoura e incapacidade ou uma raiva
obsessiva.
Uma mulher que tenha sido violentada pelo próprio pai na infância
talvez perceba que seu corpo de dor se torna facilmente ativo em
qualquer relacionamento íntimo com um homem. Por outro lado, a
emoção que constitui seu corpo de dor seja semelhante ao do seu pai.
O corpo de dor dessa mulher pode ter uma atração magnética por
alguém que ele sinta que lhe dará mais do mesmo sofrimento. E,
algumas vezes, ela pode confundir essa dor com a sensação de estar
apaixonada.
Um homem que foi uma criança indesejada e não recebeu amor nem o
mínimo de cuidado e de atenção da mãe desenvolve um corpo de dor
marcado por uma profunda ambivalência - por um lado, apresenta um
intenso e insatisfeito desejo pelo amor e pela atenção da mãe e, por
outro, um forte rancor em relação a ela por ter lhe negado aquilo de
que ele precisava desesperadamente. No caso do seu corpo de dor -
uma forma de sofrimento emocional. Ele a manifesta por meio de uma
compulsão a "conquistar e seduzir" quase toda mulher que vem a
conhecer e, dessa maneira, pretende obter o amor feminino pelo qual
seu corpo de dor anseia. Esse homem se transforma quase num
especialista em sedução. No entanto, assim que um relacionamento se
torna íntimo ou seus avanços são rejeitados, a raiva do seu corpo de
dor em ralação à mãe vem à tona e sabota a relação.
Fonte: Enxerto do Livro - O despertar de uma nova consciência -
Eckhart Tolle - Editora Sextante
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