Os Erros de Interpretação dos Cristãos Nascidos de Novo (1)
Mensagem de Scott Rabalais,
24 de Novembro de 2010

Embora a experiência de nascer de novo seja comum entre os Cristãos dos dias actuais, é largamente mal interpretada pelos que estão envolvidos nela, bem como pelos críticos da experiência.

As experiências dos nascidos de novo tendem a ter diversas características em comum, todas baseadas num sistema de crenças similar entre os participantes. Os Cristãos nascidos de novo geralmente acreditam que:

1)    A Bíblia é a palavra da autoridade de Deus;

2)    Jesus é o filho de Deus e foi enviado para morrer pelos pecados da humanidade;

3)    Jesus é visto como um salvador e, ser salvo, conduz à salvação eterna e a escapar da punição do inferno;

4)    O arrependimento sincero dos pecados e das transgressões do passado é necessário para se nascer de novo.

5)    É importante juntar-se a uma igreja fundada na Bíblia e partilhar a mensagem de fé.

Ainda, a experiência de nascer de novo é acompanhada, tipicamente, por intensa emoção visto que os participantes acreditam que são dotados com a graça de Deus. O acontecimento de nascer de novo resulta numa transformação interior das qualidades e estes Cristãos, muitas vezes leigos, afirmam uma limpeza da mente e espírito.

Não há como negar que os Cristãos nascidos de novo tiveram uma experiência profunda e transformativa; eles tocaram a sua natureza espiritual. Mesmo de um ponto de vista externo, é óbvio que estes indivíduos mudaram, muitas vezes de forma dramática. Alguns dos convertidos passaram de uma “vida na sarjeta” para uma vida de profundo amor e respeito por eles próprios e pelos outros.

Quando um indivíduo sofre uma experiência de “renascimento”, o seu sistema de crenças aceite é, normalmente, imposto nessa experiência. No cenário dos Cristãos nascidos de novo, o sistema de crenças imposto é baseado primordialmente nos princípios acima listados. Assim, à medida que a experiência se vai desenrolando, aquelas construções intelectuais irão ser aplicadas à experiência, sejam ou não baseadas na verdade.

Para ilustrar como a intelectualização disfarça a experiência, considerai a situação de milhões de crianças que acreditam que o Pai Natal os irá visitar na Noite de Natal. (Sim, o sistema de crenças por detrás do Natal é outra história!) Quando elas acordam na manhã de Natal e vêem os presentes oferecidos, ficam cheias de entusiasmo. “Certamente”, poderia uma criança raciocinar, “O Pai Natal é real porque os presentes estão mesmo aqui em frente dos meus olhos!”

Enquanto os presentes são desfrutados, a intelectualização de que o Pai Natal os trouxe pela chaminé abaixo durante a noite é falsa. Embora possa ser divertido para as crianças acreditarem que o Pai Natal e as suas renas e os portadores dos presentes são reais, um dia eles irão chegar à conclusão verdadeira de que esse Santo é de faz de conta e é um mito de proporções definitivas.

Qualquer experiência espiritual implica a receptividade do indivíduo para com essa experiência. Por outras palavras, uma pessoa que sofre a experiência de nascer de novo apenas o faz com um nível de abertura que permita essa experiência. É por isso que vemos, com frequência, alguém no meio de uma experiência de nascer de novo expressar um profundo desejo e um convite para algo mais elevado ou maior do que o eu ou do que a sua percepção do eu.

Uma premissa básica da interpretação da experiência do novo nascimento é que o homem é separado de Deus/Jesus e que esse ser nascido de novo foi tocado por Deus/Jesus. Esta dádiva da graça foi concedida pelo pedido com a crença de que não estava presente antes do pedido. “Claro”, o indivíduo pode pensar, “se estivesse aqui, eu tê-la-ia sentido!”

Não tendo qualquer sentido de autoridade interior, os Cristãos nascidos de novo recorrem à Bíblia como orientação. Eles aderem à crença de que as palavras bíblicas, tal como interpretadas, compreendem a ideologia que é a regra da sua existência.

Não possuindo nenhum sentido deles próprios como seres eternos, subscrevem a noção de céu e inferno e a ideia de que nós precisamos de “ganhar o jogo” para entrarmos no reino de Deus como consequência da morte nesta vida.

Não tendo nenhum senso de que Jesus ou outro mestre espiritual não é mais nem menos do que um ser divino/humano como os restantes de nós, eles colocam Jesus no lado direito do seu Deus conceptual e concedem-lhe o poder de determinar o poder do destino da vida.

Não tendo nenhum sentido de que são infinitos, seres espirituais, eles aceitam que nasceram em pecado e, como pecadores, estão em necessidade de redenção.

Não tendo nenhuma percepção de que a auto-realização é uma viagem interior e de descoberta, eles são encorajados, se não obrigados, a congregarem-se com outros Cristãos nascidos de novo e também a partilhar a sua mensagem de crença com os interessados e com os não-tão-interessados. A salvação das almas constitui um objectivo principal.

A partir de uma consciência transcendente, ou daquele estado que não abriga os sistemas de crenças ou construções intelectuais, a experiência espiritual é vista como uma expansão da consciência ou como uma mudança para um domínio mais profundo da auto-realização. Não existe um Deus conceptual, nem é dado um poder de autoridade a qualquer livro (a Bíblia incluída).

A partir de uma consciência superior, nós vemos que não existe céu ou inferno para buscar fora daquilo que criamos para nós mesmos e, deste modo, não há necessidade de salvação. Sem a necessidade de salvação, não há necessidade de um salvador. Se existir alguma relevância na salvação, é apenas de nos salvarmos de nós mesmos.

Quando elevamos a nossa consciência para um domínio interior mais alto, podemos ser tentados a intelectualizar que o estado superior é uma dádiva de um ser divino externo. No entanto, na transcendência vemos que a única dádiva é uma dádiva que nos demos a nós próprios, e esta é o dom da visão interior. O que está lá agora estava lá anteriormente; apenas não abrimos os nossos olhos para isso previamente.

As experiências espirituais muitas vezes emergem de uma ânsia profunda e sincera. Estas experiências somente podem ser devidamente compreendidas com uma mente aberta, ou sem a filtragem dos sistemas de crenças. É por este motivo que à experiência da verdade segue-se a admissão de “Eu não sei nada”. Apenas numa mente vazia não existem distracções ou construções que conduzam a um erro de interpretação da experiência.

De novo, não há como negar a experiência dos Cristãos não nascidos. Contudo, quando se transcende a mente e a separação, a ideologia falsa desaparece e somos vistos por quem e pelo que verdadeiramente somos. Somos seres infinitos de luz e de amor, sem necessidade de salvadores e de salvação. Somos deuses em nós mesmos com uma vida útil infinita e a sabedoria das idades. Com os nossos próprios olhos, vemos com definitiva clareza, voando alto o suficiente para nos libertarmos do que é precisamente convencional, tradicional e ingenuamente aceite como a verdade. É então que vemos que os Cristãos nascidos de novo têm tido uma experiência de consciência da unidade vista através de um filtro de consciência da separação.

1 – No Cristianismo, “nascer de novo” refere-se a um renascimento espiritual (regeneração – normalmente através do sacramento do baptismo) da pessoa humana. É um termo associado a “salvação”, com origem no Novo Testamento.


Direitos de Autor Scott Rabalais – É concedida permissão para copiar e distribuir este artigo de forma livre na condição de que o nome do autor e o seu endereço electrónico (www.scottrabalais.com) sejam incluídos no mesmo.

Tradução: Ana Belo  anatbelo@hotmail.com 

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