O tesouro mais valioso que o
ser humano deveria ambicionar, conquistar, é a sua dignidade. Mas
ela só pode existir na presença de um elemento essencial, que é a
consciência.
Aquele que permanece inconsciente de seu próprio poder interior,
torna-se presa fácil dos manipulares e se submete sem qualquer
reflexão, às exigências provenientes do mundo exterior.
Ele é facilmente reconhecível por aqueles que possuam uma mínima
capacidade de observação. Amolda-se a qualquer regra, sem nenhum
questionamento, para garantir a aprovação e a estima dos demais.
Nem sequer percebe que está sendo usado por variados interesses e,
um dia, pode ser surpreendido pelo descarte puro e simples daqueles
a quem imaginava agradar.
A dignidade não permite que nos submetamos a circunstâncias em que o
respeito à nossa condição humana esteja ausente. Quem confia no
direcionamento ditado por sua consciência, está disposto a pagar o
preço que for preciso para manter-se fiel a si mesmo.
Os relacionamentos que estabelecemos ao longo da vida, -sejam
sociais, profissionais ou afetivos-, constituem o principal campo de
provas para o exercício de nosso auto-respeito.
Abrir mão de nossa dignidade para ser aceito por quem quer que seja,
é o caminho mais fácil para a dependência e a escravidão.
É essencial que busquemos, a cada momento, encontrar dentro de nós a
resposta a este simples questionamento: estou vivendo em sintonia
absoluta com minha dignidade?
Se não conseguirmos obter um sim a esta pergunta, é hora de começar
a repensar a maneira como temos enxergado nosso próprio valor.
"Zarathustra divide a evolução da consciência em três símbolos: o
camelo, o leão e a criança.
O camelo é um animal de carga, pronto para ser escravizado, nunca
rebelde. Ele jamais consegue dizer 'não': é um crente, um seguidor,
um escravo fiel. Este é o mais baixo nível da consciência humana.
O leão é uma revolução.
O princípio da revolução é um sagrado 'não'.
Na consciência do camelo, há sempre uma necessidade de alguém
conduzir e de alguém para lhe dizer: "Tu deves fazer isto". Ele
precisa de todas as religiões, de todos os sacerdotes e de todas as
escrituras sagradas, porque ele não pode confiar em si mesmo; não
tem nem coragem e nem alma e nem qualquer desejo pela liberdade: é
obediente.
O leão é um anseio profundo pela liberdade, um desejo de destruir
todos os aprisionamentos. O leão não tem necessidade de nenhum líder
- ele é suficiente em si mesmo. Não permitirá que ninguém diga a
ele: "Tu deves".- isto é insultante para o seu orgulho. Ele só pode
dizer: "Eu quero". O leão é responsabilidade e um tremendo esforço
para se livrar de todos os aprisionamentos.
Mas, mesmo o leão não é o mais alto pico do crescimento humano. O
mais alto pico é quando o leão passa também por uma metamorfose, e
se torna uma criança. A criança é inocência. Não é obediência, não é
desobediência; não é crença, não é descrença: é pura confiança; é um
sagrado 'Sim!' à existência e à vida e a tudo que esta contém.
... Zarathustra é absolutamente a favor do espírito forte. Ele é
contra o ego, mas não contra o orgulho. O orgulho é a dignidade do
homem. O ego é uma entidade falsa e não se deve pensar neles,
jamais, como sinônimos.
O ego é algo que o priva da sua dignidade, que o priva de seu
orgulho, porque o ego tem de depender dos outros, da opinião dos
outros, do que as pessoas dizem. O ego é muito frágil. A opinião das
pessoas pode mudar e o ego desaparecerá no ar.
... Zarathustra deixa absolutamente claro que ele é a favor do homem
forte, do homem corajoso, do aventureiro que entra no desconhecido,
por caminhos não trilhados, sem nenhum medo. Ele é a favor do
destemor.
... A mais baixa consciência no homem é uma deformidade: ela quer
ser escravizada - ela tem medo da liberdade, porque tem medo da
responsabilidade;
... A mais baixa consciência do homem permanece ignorante e
inconsciente, alheia, adormecida - porque, continuamente, está sendo
dado a ela o veneno da crença, da fé, do nunca duvidar, do nunca
dizer não. E um homem que não pode dizer 'não', perdeu a sua
dignidade.
... Não se consegue fazer de um leão um animal de carga.
Um leão tem uma dignidade que nenhum outro animal pode suster; ele
não tem qualquer tesouro, qualquer reino; sua dignidade está apenas
no seu estilo de ser - destemido, sem medo do desconhecido, pronto
para dizer 'não', até mesmo sob o risco de morte.
... E somente depois do leão - depois do grande 'não'-, o sagrado
'sim' de uma criança é possível.
... Há momentos, até na vida daqueles que estão tateando no escuro e
na inconsciência, quando, exatamente como um relâmpago, algum
incidente os acorda... e o camelo não é mais um camelo: uma
metamorfose, uma transformação acontece.
Gautama Buda deixou seu reino quando tinha vinte e nove anos de
idade, e a razão foi um súbito relâmpago: e o camelo se tornou um
leão.
... A existência tem um interesse no investimento do seu despertar,
porque o seu despertar vai acordar muitas pessoas.
E, como uma regra geral, toda a consciência da humanidade será
afetada por isso. Isso imprimirá algo de sua grandiosidade em cada
ser humano inteligente. Talvez possa criar o anseio profundo pelo
mesmo, em muitos - talvez a semente possa começar a germinar.
Talvez, aquilo que está dormente se torne ativo, dinâmico.
... Um homem que tenha um espírito rebelde - e sem um espírito
rebelde, a metamorfose não pode acontecer - tem de dizer:.quero
fazer seja o que for que a minha consciência sinta ser certo, e não
quero fazer seja o que for que a minha consciência sinta ser errado.
Exceto meu próprio ser, não há nenhum outro guia para mim.
... O leão não pode por si mesmo criar novos valores, mas ele pode
criar a liberdade, a oportunidade na qual novos valores podem ser
criados.
E quais são os novos valores?
Por exemplo: o Novo Homem não pode acreditar em nenhuma
discriminação entre os seres humanos. Este será um novo valor: Todos
os seres humanos são um só, a despeito da sua cor, a despeito da sua
raça, a despeito das suas geografias, a despeito da sua história.
Apenas "ser humano" é o suficiente.
... a verdade não é um brinquedo, você não pode comprá-la pronta...
Você terá de procurá-la nos silêncios mais profundos do seu próprio
coração. E, exceto você, ninguém mais pode ir lá.
... E onde quer que você fique sentado silenciosamente,
meditativamente, amorosamente, você cria um templo de consciência ao
seu redor. Você não precisa ir a lugar algum para adorar, porque não
há ninguém mais elevado do que a sua consciência, a quem você deva
fazer qualquer adoração.
....O verdadeiro sábio novamente se torna uma criança.
O círculo está completo - vir da criança de volta para a criança.
Mas, a diferença é enorme.
A criança, como tal, é ignorante. Ela terá de passar através do
camelo, através do leão e voltar, novamente, para a criança - e esta
criança não é exatamente a velha criança, porque ela não é
ignorante. Ela atravessou todas as experiências da vida: da
escuridão, da liberdade, de um impotente "sim", de um feroz "não" -
e, não obstante, se esqueceu de tudo aquilo.
Isso não é ignorância, mas inocência. A primeira infância era o
começo da jornada. A segunda infância é o complemento da jornada.
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